TEOLOGIA EM FOCO

domingo, 12 de setembro de 2010

PROFETA - SIM OU NÃO?


“Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte” (Ez 3.17).

Os profetas do Antigo Testamento inspiram e instruem não somente a Israel, mas a Igreja de Cristo. O Senhor Jesus Cristo e os seus apóstolos fizeram-lhes referências, reconhecendo a autoridade espiritual deles. Esse capitulo objetiva explanar a missão desses homens de Deus e a abrangência bíblica do termo “profeta”.

I.         DEFINIÇÃO

Profeta (do hebr. Navi do gr. profhetes), é aquele que fala por alguém; porta voz, atalaia. No antigo Testamento, a pessoa era devidamente vocacionada e autorizada por Deus para falar por Deus e em lugar de Deus (Ez 2.1-10). O profeta era um mestre incontestável quando sob inspiração do Espírito Santo, declara aos homens o que recebeu por inspiração, especialmente aquilo que concerne a eventos futuros, e em particular tudo o que se relaciona com a causa e reino de Deus e a salvação humana.

Os profetas do AT, tendo predito o reino, obras e morte, de Jesus, o Messias, de João, o Batista, o arauto de Jesus, o Messias; do profeta ilustre que os judeus esperavam antes da vinda do Messias.

Eram homens cheios do Espírito de Deus, que pela sua autoridade e comando em palavras de relevância defendem a causa de Deus e estimulam a salvação dos homens.

Os profetas do NT, apareceram nos tempos apostólicos entre cristãos e estão associados com os apóstolos. Discerniram e fizeram o melhor pela causa cristã e previram determinados eventos futuros (At 11.27). Nas assembléias religiosas dos cristãos, foram movidos pelo Santo Espírito para falar, tendo capacidade e autoridade para instruir, confortar, encorajar, repreender, sentenciar e motivar seus ouvintes.

O profeta era o Porta-voz oficial da divindade, sua missão era preservar o conhecimento divino e manifestar a vontade do único e Verdadeiro Deus. No sentido bíblico. Profeta é aquele que fala em lugar de outro. Este foi um ministério de larga expansão no decorrer dos séculos, sendo que os escolhidos de Deus para realizar a missão de profeta deviam ser detentores de vocação. (Entre o povo de Deus a mensagem era julgar quanto a sua procedência e quanto ao seu porta-voz). Ainda que por muitas vezes a palavra enfrentasse rejeição, se, contudo na realidade fosse oriunda do Céu, jamais falharia.

II.       OS PROFETAS DO ANTIGO TESTAMENTO

Dezessete livros do AT, de Isaías a Malaquias, são classificados como proféticos.

Os profetas eram enviados por deus com três propósitos:

1. Entregar a mensagem divina de advertência da última oportunidade a um povo rebelde, cujo pecado e indiferença os conduziam a perdição, julgamento e ira de Deus.

2. Os profetas eram enviados para suplementar o ensino negligenciado pelo sacerdócio. No Velho Testamento, o cargo de sacerdote era passado de pais para filhos, contudo muitas vezes aqueles homens eram investidos nessa função, sem terem um relacionamento sadio com Deus, e sem desejo de servi-lo. Jeremias observou:

“Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? e os que tratavam da lei não me conheceram” (Jr 2.8).

Naturalmente, o estado espiritual do povo se degenerou devido a falta de ensino. “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6). A fim de suprir esta falha dos sacerdotes, Deus enviou seus profetas, para pregar e ensinar a lei divina (Is 28.9,10).

3. Os profetas eram enviados para fazer o .povo ver o plano completo de Deus para suas vidas. Aqueles que foram levados ao cativeiro, naturalmente sentiram que Deus os tinha abandonado e alguns até insinuaram que Deus não tinha poder suficiente para libertar seu povo. Os profetas bradavam com veemência que nada disso era verdade; lembraram ao povo que Deus permanecia onipotente como sempre, permitindo o cativeiro a fim de levá-los ao arrependimento.

A Época dos Profetas

Como você notará, o gráfico abaixo, agrupa os profetas do Velho Testamento nos três períodos de crise da nação. Como foi mencionado anteriormente, os profetas foram enviados por Deus, em tempo de grande declínio espiritual, tensão, e apostasia, como ocorreu antes das invasões pela Assíria e Babilônia. Note que Obadias, Joel e Jonas não aparecem no gráfico, uma vez que seus ministérios ocorreram bem antes, no Século IX a.C. (900-800 a.C.).

Os profetas não aparecem na Bíblia na ordem cronológica em que profetizaram.

CRISE   ASSÍRIA                     CRISE   BABILÔNICA        CRISE DO   CATIVEIRO

Amós                760-750                      Naum                          630          Daniel      606-536
Oséias 760-725                                   Jeremias 628-585          Ezequiel               593-571
Isaías 744-695                                    Sofonias 630-625          Ageu                           520
Miquéias 735-700                              Habacuque 609-600       Zacarias               520-480
                                                                                                 Malaquias                   430

800 a.C.                                             700 a.C.                          600 a.C.


III.    O MINISTÉRIO

Há quem negue a existência da escola e do ministério dos profetas como instituição em Israel nos tempos do Antigo Testamento. Entendemos que no ministério mosaico iniciou-se a atividade profética em Israel (Nm 11.25). Entretanto, o profetismo, como movimento, surgiu séculos depois.

Mais tarde vemos que Samuel, presidia a congregação de profetas em Naiote, região de Ramá, onde residia (1º Sm 7.17; 19.19-23). E adiante, vemos a existência de uma escola dos profetas composta por “filhos” dos que exerciam o ofício (2º Rs 2.3,5,1 5). É importante ressaltar que “filho”, na Bíblia, significa também “discípulo, aprendiz” (Pv 3.1,21; 2ª Tm 2.1; FL 1.10). Note que o texto sagrado revela a existência de uma organização de profetas bem estruturada, e Eliseu chegou a ser o mestre deles (2 Rs 6.1-3).

O filho de Ana, Samuel, tornou-se um profeta, e seu ministério inauguraria uma era de esperança e de realizações inteiramente nova na vida de Israel, até mesmo nos assuntos mundiais.

Muito agrada a Deus que a situação humana seja vivenciada, assumida e apresentada diante dele, em toda a urgência e seriedade, por pessoas dispostas a compartilhar o próprio senso de retidão a ocupar o coração com as necessidades da comunidade à sua volta e a pressioná-la, através do exemplo dos profetas. Foi com esse propósito que Deus levantou profetas em Israel. Eles estavam lá não somente para pregar e orar, mas para advertir o povo dos caminhos errantes.

Esses profetas deveriam ser como vigias colocados sobre os muros de Jerusalém, a fim de que dia e noite nunca ficasse em silêncio nem oferecessem a Deus descanso algum até que a cidade fosse restabelecida (Is 62.6-7). Deus afligiu-se quando fracassaram em sua tarefa (Is 59.16). Quer dizer, viu má conduta, ignorância e loucura no meio do Seu povo e, não viu ninguém que se colocasse sobre a brecha. Era como ninguém se preocupasse com nada!

É claro que o próprio Deus também entra em situações em favor de Seu povo. Não existe nenhum ato de indecência ou injustiça na terra que não seja notado por Ele. Ele ouviu aflição e ouviu o clamor de Seu povo oprimido no Egito muito tempo antes de enviar Moisés para liberta-los (Êx 3.7).

Israel obteve a prerrogativa de ouvir oráculos advindos da parte de Jeová pelo ministério de grandes homens, tais como: Moisés, Elias, Jeremias, Ezequiel, Isaías, Daniel e outros. Todos eles cumpriam sua árdua missão sem desfalecer, embora por muitas vezes encontrassem resistência ao comunicado Divino. Como chamados do Senhor, obtiveram o devido respaldo em todo tempo.

“Tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras, ainda que haja sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles, porque são casa rebeldes” (Ez 2.6).

Ezequiel enfrentou uma tarefa difícil, porque o povo estava em uma rebelião contra Deus. No antigo Israel, os atalaias ficavam posicionados nas torres ou muros para alertar as pessoas sobre o perigo e sobre a aproximação de mensageiros (2º Sm 18.24-27; 2º Rs 9.17-20). Os profetas eram chamados de atalaias ou vigias (Jr 6.17; Os 9.8; Hb 2.1).

“Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, porém o seu sangue requererei da mão do atalaia” (Ez 33.6).

Ezequiel tem a missão de alertar o povo de que cada pessoa é responsável por seu próprio comportamento. Esse tema de responsabilidade pessoal é repetido em 33.7-9 e é descrito em detalhes no cap. 18.

O fiel porta-voz de Deus não reluta em comunicar a mensagem, por mais severa e repreensiva que seja. Vemos como exemplo o caso de Elias, quando compareceu diante do Rei Acabe, e este indagou-lhe: 

“Vendo-o, disse-lhe: És tu, ó perturbador de Israel? Respondeu Elias: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do SENHOR e seguistes os baalins” (1º Rs 18.18).

Do primeiro ao último profeta enviado por Jeová para a nação Israelita, todos foram alvos de perseguição. No entanto, o Senhor honrava as suas palavras, contanto que os mesmos permanecessem fiéis em ouvir para anunciar.

Quanto aos falsos, ou profetas impostores, não ouviam mensagem alguma e, conseqüentemente, ninguém era responsável por aquilo que eles falavam.

Existiam impostores – profetas de divindades pagãs, que faziam errar o povo, com recados espúrios, estribados nos próprios entendimentos. Traziam dissabores e mensagens falsas para a Nação, que se contaminava com suas abominações, dando ouvidos a mensagens desarmônicas em detrimento da verdade.

Os profetas faziam errar o povo já nos dias de Isaías:

“Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo” (Is 5.20).

Pelos lábios de Jeremias o Senhor falou: “Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?” (Jr 23.26).

Foi no monte Carmelo que os desbriados impostores foram desmascarados diante de toda a Nação. Elias, o leal servo de Deus, os desafiou para ver qual o Senhor que seria capacitado em responder com fogo as orações e queimar o holocausto oferecido. Não passou vexame o profeta verdadeiro, pois obteve resposta imediata. Após a luta contra quatrocentos e cinqüenta falsificadores de mensagens, foi honrado e seu Senhor glorificado diante de toda a Nação.

A nódoa precisaria ser removida e, por isso, Deus comissionou Elias a ir ao vale decapitar um a um daqueles falsos profetas, pois eles eram responsáveis pelo desvio do povo. Seus ensinos durante o tempo em que profetizaram mentiras haviam feito com que a Nação se voltasse à idolatria, prostituição, mistura com o paganismo e praticasse as mais variadas formas de aberração.

Entre os deturpadores que se intitulavam porta-vozes da divindade, ainda existia aquela classe que furtava as palavras do Senhor, desvirtuando o conteúdo da mensagem. Não estavam afinados com Deus e nem podiam ser aceitos como confiáveis. “E morava em Betel um profeta velho... e ele lhe disse: também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou pela palavra do Senhor, dizendo... (porém mentiu-lhe)” (1º Rs 13.11-18).

Os embustes comumente praticados não podiam ser tidos como responsabilidade de Deus e sim dos profetas que não respeitavam o compromisso básico do ministério que lhes fora confiado, ou seja, o dever de falar somente a verdade.

Enfatizando o sentido bíblico e o real significado do ministério de um profeta coerente, afirmamos que não é nosso desejo desenvolver um assunto estritamente no sentido etimológico da palavra, mas no amplo significado contido em seu bojo, relacionando profeta com apóstolos, mestres, pregadores, etc.

Com amor, dizemos: toda mensagem cristã deve estar em total harmonia com a Bíblia Sagrada, pois mesmo que um anjo anuncie outra, se for discordante com o fundamento da Palavra de Deus, deve ser considerada anátema (Gl 1.8). Tudo o que é divino se confirma e não causa confusão. “Porque se a trombeta tiver sonido incorreto, quem se preparará para a batalha” (1ª Co 14.8).

Os reis do Velho Testamento sempre que saiam em guerra consultavam a Deus através dos profetas. No livro de 1º Reis 22.5-11, a Bíblia diz que o rei Acabe faz aliança com Josafá rei de Judá para guerrear contra a Síria. Porém havia uma diferença entre os reis; Acabe era um rei sem temor, fazia o que era mau perante o Senhor, casou-se com uma mulher idolatra e era conduzido por falsos profetas. Josafá um rei temente e reverente a Deus (2º Cr 20).

Ao sair à peleja pede ao rei de Israel: “Consulta primeiro a Palavra do Senhor” (1º Rs 22.5), porém, ele reuniu os seus “profetas” para saber se iriam à peleja ou não. Josafá um homem de visão disse ao rei Acabe: 

“Não há aqui ainda algum profeta do Senhor para consultar”? Josafá era um homem justo, e não se deixava enganar tão facilmente. Pode haver muitas pessoas no mundo que se dedicam à religião, á invocação de coisas sobrenaturais, mas um verdadeiro servo de Deus, guiado por Sua Palavra, vale mais que a total religiosidade do mundo, quando esta não é vinculada á pessoa de Jesus Cristo (Cl 2.8-23).

Como o rei Acabe não gostava de ouvir a verdade disse a Josafá rei de Judá: “Há um ainda, pelo qual se pode consultar o SENHOR, porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau. Este é Micaías, filho de Inlá. Disse Josafá: Não fale o rei assim” (1º Rs 22.8).

Micaías um servo de Deus, que estava em seu posto num momento histórico. Sua mensagem era real á vontade divina e não ao entusiasmo carnal, que proclama ir tudo bem, mesmo quando mais se acentua a desobediência ás Leis de Deus. Esta passagem é uma indicação da profundeza da separação que havia entre os falsos e os verdadeiros profetas. Os falsos profetas tentavam agradar aos seus ouvintes com promessas de sorte e felicidade (Jr 28.8-9). Os falsos profetas eram reconhecidos pelas profecias que não se cumpriam (Dt 18.21). Mesmo que um profeta opere milagres e prediga corretamente o futuro, deve ser rejeitado como falso, se pregar heresias contra a Palavra de Deus (Dt 13.1).

O verdadeiro profeta é integro na plena comunhão com o Senhor Deus e integrava-se completamente nos Seus planos (Am 3.7). Mesmo que tenha que pagar o preço de angustia como fez o profeta Micaías ao comunicar a verdade de Deus ao rei acabe; e por falar somente a verdade, Acabe disse: “.... metei este homem na casa do cárcere e angustiai-o, com escassez de pão e de água, até que eu volte em paz. Disse Micaías: Se voltares em paz, não falou o SENHOR, na verdade, por mim. Disse mais: Ouvi isto, vós, todos os povos!” (1º Rs 22.27-28)

No meio da batalha um homem anônimo, foi instrumento das mãos de Deus: “Então, um homem entesou o arco e, atirando ao acaso, feriu o rei de Israel por entre as juntas da sua armadura; então, disse este ao seu cocheiro: Vira e leva-me para fora do combate, porque estou gravemente ferido. A peleja tornou-se renhida naquele dia; quanto ao rei, seguraram-no de pé no carro defronte dos siros, mas à tarde morreu. O sangue corria da ferida para o fundo do carro. Quando lavaram o carro junto ao açude de Samaria, os cães lamberam o sangue do rei, segundo a palavra que o SENHOR tinha dito; as prostitutas banharam-se nestas águas.” (1º Rs 22.34-35, 38).

O Senhor tinha dito pela boca do profeta Elias (1º Rs 21.19) e o profeta Micaías profetizou: “Se voltares”.

Aquele que rejeita a verdade divina tem um fim trágico. A glória deste rei se findou quando o sangue real se confundira com as águas do esgoto de Samaria. Assim é a obra daquele que não constrói segundo o plano divino (Sl 127.1; 1ª Co 3.10-15).

Certo dia ouvindo um pregador dizer: "que hoje está difícil falar a verdade. Corremos um sério risco de sermos lançados no “calabouço” (ficarmos no banco)". Mas, se verdadeiramente Deus nos escolheu por atalaia, embora soframos rejeição, tal qual Jeremias, Micaías e outros, devemos saber que Deus nos sustentará e nos fortalecerá para que sejamos, nestes últimos dias de apostasia, verdadeiros atalaias para falar as verdades bíblicas e acordar aqueles que estão dormindo no sono da religiosidade e da negligência quanto à verdade.

Aquele que é chamado para ser um porta voz de Deus, deve ter como requisito na sua mensagem a palavra verdade: “Eis as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo, executai juízo nas vossas portas, segundo a verdade, em favor da paz” (Zc 8.16). Todo o julgamento e disciplina deve ser enquadrado na verdade em favor da paz.

IV.      FALSO PROFETA

Falso profeta no grego. Pseudoprophetes. Quem, agindo como um profeta divinamente inspirado declara falsidades como se fossem profecias divinas.

Os falsos profetas sempre usam o sobrenatural como recurso para atrair as pessoas. O teste de Deuteronômio 18.20-22 só é decisivo quando a palavra não se cumprir. Se o profeta passar no teste, será necessário investigar o seu conteúdo doutrinário. O simples fato de uma profecia ou previsão cumprir-se ou mesmo de uma operação de maravilhas ocorrer não é suficiente para reconhecer a legitimidade de um profeta. Daí a necessidade dos avisos solenes ao povo de Deus contra as suas ciladas. Jesus advertiu os seus discípulos dizendo que eles “vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7.15).

1. Prodígios dos falsos profetas.

“Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” (Mt 24.11). “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.24).

Estas palavras dão o verdadeiro sentido do termo prodígio. Na acepção teológica, os prodígios e os milagres são fenômenos excepcionais, fora das leis da Natureza. Sendo estas, exclusivamente, obra de Deus, pode ele, sem dúvida, derrogá-las, se lhe apraz; o simples bom senso, porém, diz que não é possível haja ele dado a seres inferiores e perversos um poder igual ao seu, nem, ainda menos, o direito de desfazer o que ele tenha feito. Se, portanto, de acordo com o sentido que se atribui a essas palavras, o Espírito do mal tem o poder de fazer prodígios tais que os próprios escolhidos se deixem enganar, o resultado seria que, podendo fazer o que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégio exclusivo dos enviados de Deus e nada provam, pois que nada distingue os milagres dos santos dos milagres do demônio. Necessário, então, se torna procurar um sentido mais racional para aquelas palavras.

Para o vulgo ignorante, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por sobrenatural, maravilhoso e miraculoso; uma vez encontrada a causa, reconhece-se que o fenômeno, por muito extraordinário que pareça, mais não é do que aplicação de uma lei da Natureza. Assim, o círculo dos fatos sobrenaturais se restringe à medida que o da Ciência se alarga. Em todos os tempos, houve homens que exploraram, em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, certos conhecimentos que possuíam, a fim de alcançarem o prestígio de um pseudo-poder sobre-humano, ou de uma pretendida missão divina. São esses os falsos Cristos e falsos profetas. A difusão das luzes lhes aniquila o crédito, donde resulta que o número deles diminui à proporção que os homens se esclarecem. O fato de operar o que certas pessoas consideram prodígios não constitui, pois, sinal de uma missão divina, visto que pode resultar de conhecimento cuja aquisição está ao alcance de qualquer um, ou de faculdades orgânicas especiais, que o mais indigno não se acha inibido de possuir, tanto quanto o mais digno. O verdadeiro profeta se reconhece por mais sérios caracteres e exclusivamente morais.

As Escrituras ensinam que Deus pode provar seu povo, permitindo, a manifestação do sobrenatural de fontes estranhas. É até possível, às vezes, o cumprimento das palavras ou profecias deles, mas sob a permissão de Deus (Dt 13.2). Jesus advertiu, no sermão profético, que o Anticristo virá fazendo sinais, prodígios e maravilhas. No livro de Apocalipse, lemos que a besta será adorada e admirada por todos os moradores da terra por causa dos sinais sobrenaturais. Portanto, não é somente o cumprimento de uma palavra ou uma operação de maravilhas que vai autenticar um profeta.

2. Como podemos identificar o falso do verdadeiro?

A primeira e mais segura regra de autenticação dos prodígios realizados por alguém é a sua coerência bíblica. É impossível alguém operar milagres da parte do Senhor e, ao mesmo tempo, adotar uma teologia contrária à Bíblia, ou seja, quem ensina ao povo a seguir a um deus estranho está incitando a rebelião contra Deus (Dt 13.5).

Nem sempre é possível distinguir o produto falso do verdadeiro apenas pela embalagem, mas pelo seu conteúdo. Assim, ensinou Jesus que eles serão identificados pelos frutos, (Mt 7.15-20), ou seja, pelo conteúdo, e não pela aparência. É, pois, necessário compreender o que ele estava dizendo com a expressão: “Por seus frutos os conhecereis”. Será que Jesus falava de uma vida piedosa? Há muitos piedosos e, em sua ignorância, apesar da honestidade e boa conduta, são adeptos de religiões falsas e de seitas sectárias. Ao falar dos “frutos”, o Senhor Jesus Cristo referiu-se mais ao conteúdo teológico do pregador milagreiro e enganador.

A chave principal para se descobrir a procedência espiritual de um profeta é saber qual a sua posição teológica. Como a Bíblia é vista por ele, qual o seu pensamento em relação à pessoa de Jesus Cristo, se ele realmente crê na humanidade e divindade de Cristo, e se crê que Ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou pelos nossos pecados e ressuscitou corporalmente dentre os mortos. O que ensina a Trindade? E sobre a salvação? Sobre o Espírito Santo. Sobre o pecado e a Igreja? Mesmo assim, convém fazer uma investigação criteriosa, pois os falsos profetas são peritos na arte do disfarce, usam os mesmos termos cristãos, mas com sentido diferente.

Nos dias do profeta Jeremias já existiam falsos profetas, aqueles que usavam o nome do Senhor Deus em vão para tirar o povo de Deus do Caminho da Verdade. Nos dias de Jesus estes tais também estavam como líderes, para enganar o povo e levá-lo a não a crer no Messias. Por isso Jesus diz: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.15-16).

Os falsos profetas usam a sutileza enganosa, até choram nas suas homilias para impressionar seus ouvintes. Dizem que o Espírito de Deus está dizendo, mas, na verdade o Senhor não disse coisa alguma. Usam o nome do Senhor em vão. “Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei! Sonhei! Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras e que são só profetas do engano do seu coração?” (Jr 23.25-26).

A exigência básica para alguém ser um profeta do Antigo Testamento: devia estar de acordo com as Escrituras e no Conselho de Jeová. (Jr 23.22). No Novo Testamento as exigências de Deus estão acima da Antiga Aliança. O pregador que está no lugar de profeta deve: esmerar-se no ensino (Rm 12.7), ensinar a verdade sem distorção a sã doutrina (Tt 2.1; 1ª Tm 6.3-5.3), ter humildade (Mt 11.28), fruto (Gl 5.22-23), ser o exemplo (1ª Tm 3.12).

3. O discernimento do povo de Deus. Já que Deus responsabiliza todos nós, precisamos estar cientes da nossa obrigação de discernir uma liderança adequada e digna de ser seguida. Um dos dons espirituais mais necessários é o de discernimento. Isto porque o falso profeta, sendo um imitador muito eficiente, pode confundir o povo de Deus, uma vez que suas mensagens concordam com aquilo que as pessoas esperam, gostam e sonham. Entretanto, o crente que teme a Deus tem o discernimento, mediante o Espírito Santo, para distinguir a verdade do erro. Alguns exemplos bíblicos demonstram que, às vezes, a mentira e a verdade estão mais que evidentes (Êx 7.12; 1º Rs 22.18,37). Oremos, pois, a Deus, rogando-lhe o dom de discernimento de espíritos.

V.   A FALSA MENSAGEM PROFÉTICA

1. O falso prega a sua palavra. “Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse” (Jr 23.31).

Os falsos profetas são aqueles que pregam a sua própria palavra, os seus conceitos e conjectura da sua dominação como se fosse Deus estivesse falando. São mentirosos, pilantras, adúlteros porque roubam as palavras do Senhor, e mudam o verdadeiro sentido bíblico.

Nos dias dos Profetas Jeremias e Ezequiel, o povo havia se desviado dos caminhos do Senhor e seguido os ensinamentos de falsos profetas que induziam o povo ao erro, ao pecado e à apostasia, fazendo com que o povo israelita entrasse numa crise religiosa e recebesse a recompensa pelo seu erro.

O livro de Ezequiel registra a atividade de um profeta durante o exílio da Babilônia. Sua mensagem foi dirigida para seus companheiros de exílio, e igualmente ao povo hebreu que ainda se encontrava na Palestina. Ezequiel profetizou antes do exílio e Jeremias durante o exílio. O longo ministério de Jeremias durou cerca de quarenta anos, se estendeu desde 625 a.C. até poucos anos depois que Judá deixou de ser Estado, em 586 a.C. Mais de cinqüenta anos Israel esteve em apostasia religiosa. O Senhor Deus levantou Ezequiel como um atalaia para alertar o povo:

Adicionar legenda
“Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel: da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte. Mas, quando eu falar contigo, darei que fale a tua boca, e lhes dirás: Assim diz o Senhor teu Deus: Quem ouvir ouça, e quem deixar de ouvir deixe; porque são casa rebelde” (Ez 3.17, 27). Os verdadeiros adoradores são aqueles que ouvem e praticam verdadeiramente a Palavra de Deus. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra de Deus e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22).

A apostasia enfraqueceu o estado judaico política e religiosamente, tornando inevitável a queda de Jerusalém, em 586 a.C. Com isto a Babilônia levou o povo para o exílio (escravidão). Sempre que o povo israelita rejeitava a Palavra ensinada pelos profetas, o Senhor Deus permitia o castigo ou o exílio, para que houvesse arrependimento em seus corações.

Ao profeta Jeremias diz o Senhor: “Põe-te à porta da Casa do Senhor, e proclama ali estas palavras, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, vós, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, Templo do Senhor” (Jr 7.2, 4).

Os profetas de Deus, embora sofressem perseguição dos homens, tinham comunhão com o seu Senhor. Mas os falsos profetas, Deus os comparava a raposas em ruínas: “Os teus profetas, ó Israel, Israel, são como raposas entre ruínas” (Ez 13.4). Raposas em ruínas são profetas inúteis, mentirosos, enganadores e falsos, que fazem o povo errar o caminho.

2. São profetas sem mensagens. Deus os chama de profetas sem palavras, mas para ganhar popularidade entre o povo dizem o que o Senhor não disse.

“Assim diz o Senhor: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito sem nada ter visto! Tiveram visões falsas e adivinhação mentirosa os que dizem: o Senhor disse; quando o Senhor os não enviou; e esperam o cumprimento da palavra. Não tivestes visões falsas e não falastes adivinhação mentirosa, quando dissestes: O Senhor diz, sendo que eu tal não falei? Portanto, assim diz o senhor Deus: Como falais falsidade e tendes visões mentirosas, por isso, eu sou contra vós outros, diz o Senhor Deus. Minha mão será contra os profetas que têm visões falsas e que adivinham mentiras; Não estarão no conselho do meu povo, não serão inscritos nos registros da casa de Israel, nem estarão na terra de Israel. Sabereis que eu sou o Senhor Deus. Visto que andam enganando, sim, enganando o meu povo, dizendo: Paz, quando não há paz, e quando se edifica uma parede, e os profetas a caiam” (Ez 13.3-10)

Deus é cruel com os falsos profetas: os chamas de: Loucos (v. 1); que seguem seu próprio espírito (v. 1); têm visões falsas (v. 6); são mentirosos (v.6); usam em vão o nome do Senhor (v. 6-7); falam falsidades (v.8); receberam o castigo de Deus (v. 9); não tomam conselho com o povo, ou seja, são soberanos e ditadores (v. 9); são enganadores (v. 9); falam de paz, mas dispersam o povo (v.10).

“Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” (Jr 5.30-31)

Muitas pessoas, por vários motivos, sentem-se totalmente desacreditados na sua comunhão com Deus e acabam entregando as decisões mais importantes de suas vidas a alguém que intitulou-se “profeta”. Passam a ser iludidas e manipuladas, o que resultará certamente em fortes decepções.

Profecia nunca vem para dirigir a vida das pessoas, mas para confirmar uma direção pessoal de Deus. Ou, também, quando alguém resiste a convicção do Espírito Santo acerca de pecados encobertos, Deus levanta os Seus profetas. O pior é quando Deus levanta alguém para denunciar nosso pecado fechamos o coração e acabamos caindo nas mãos dos falsos profetas que falam apenas o que queremos ouvir.

A profecia pode ter três fontes: Deus, o diabo e a alma do profeta. Toda profecia precisa ser julgada criteriosamente segundo o caráter de Deus e os princípios da Sua Palavra.

3. São profetas estúpidos. “Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao Senhor; por isso, não prosperaram, e todos os seus rebanhos se acham dispersos” (Jr 10.21).

Pastores aqui é a figura de vários governadores, tanto espiritual como civis (Jr 2.8; 3.15; 23.1). Geralmente considerados como “sábios”, mas aqui é notório por causa da sua estupidez. São pastores maus, estúpidos, mal tratam os fiéis, não têm prosperidade de Deus, são fingidos, e por isso dispersam o rebanho. Mas naquele dia o Senhor porá à prova os falsos profetas; O Senhor Deus é contra esses profetas. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi, explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais iniqüidade” (Mt 7.22-23).

4. Profetas mentirosos. Jeremias 23.16, 21, 25, 31-32: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor. 21 Não mandei estes profetas, todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizam. 25 tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, proclamam mentiras em meu nome, dizendo: sonhei, sonhei. Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam o engano do próprio coração? 31 Eis que eu sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse. 32 Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e com suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o Senhor”.

Enchem-vos de falsas esperanças (v.16); ensinam falsas revelações (v 16); não têm mensagens (v. 21); proclamam mentiras e enganam o povo (v. 25); fazem errar o povo com suas mentiras (v. 31). O Senhor Deus é categórico em afirmar que é contra estes impostores e que um dia irá julgá-los com justiça.

O profeta do V. T. tinha como função, ensinar a Lei ao povo e adverti-los contra os falsos profetas que ensinavam heresias e faziam o povo cair em iniquidades  “Tu, ó filho do homem, põe-te contra as filhas do teu povo que profetizam de seu coração, profetiza contra elas” (Ez 13.17).

Profetas porta voz e sacerdotes tornaram-se opressores, enganadores, falsos e mentirosos para o povo de Israel: “coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” (Jr 5.30-31). E também: “Os opressores do meu povo são crianças (às vezes adultos também) e mulheres estão à testa do seu governo” (Is 3.12).

VI.  PREGAM UMA FALSA MENSAGEM

1. O falso profeta Hananias. No início do reinado de Zedequias, o profeta Jeremias colocou sobre seu pescoço uma canga de madeira com tiras de couro (Jr 27.1-2; 28.10, 12-13) e foi enviado por Deus a Judá e a Jerusalém (Jr 27.3), exortando o povo á submissão ao rei de Babilônia (Jr 27.-6-8). Assim como o boi é dominado pelo jugo de seu dono, as nações deveriam sujeitar-se ao domínio dos caldeus, pois seria inútil tentar livrar-se de Nabucodosor (Jr 27.13-13).


No mesmo ano em que o Senhor transmitiu essa mensagem por meio de Jeremias, surgiu um falso profeta – “Hananias”, filho de Azur, o profeta de Gibeão” (Jr 28.1), para confrontar a mensagem do arauto de Deus. O falso profeta Hananias desafiou o profeta de Deus no templo de Jerusalém diante do povo e dos sacerdotes. A Palavra de Deus adverte-nos de que haverá entre nós, na própria igreja, falsos profetas (2ª Pe 2.1-2; At 20.30; 1ª Tm 4.1; 1ª Jô 4.1).

O farsante Hananias procurava contradizer a mensagem de Jeremias acerca do destino de Joaquim filho de Jeoaquim (Jr 37.1) e do fim do cativeiro. O profeta de Deus afirmava ser impossível Jeoaquim retornar de Babilônia (Jr 22.24-27), o que realmente aconteceu, pois o rei veio a morrer em Babilônia durante o reinando de Evil-Merodaque (Jr 52.31-34; 2º Rs 25.-27-30).

Contudo, o falso profeta Hananias trouxe uma mensagem que todos queriam ouvir: a volta de Joaquim e o fim do jugo caldeu em dois anos (Jr 28.2-40).

Era, portanto, a palavra dele contra a de Jeremias, e isso colocava o homem de Deus em desvantagem, pois o povo esperava uma mensagem de triunfo.

Apesar de um discurso bonito e de uma mensagem agradável , faltava ainda o teste do tempo. Como ensina Deuteronômio 18.22. A Bíblia ensina que o profeta só será reconhecido como tal após suas predições se cumprirem (28.29).

2. Os dias hodiernos não são diferentes. O falso profeta é aquele que agrada todo mundo. Seu dever é dar testemunho de Deus, mas ele não vê Deus e prefere não ver porque vê muitas outras coisas. Segue seus pensamentos humanos, conserva-se interiormente calmo e seguro, evita habilmente tudo quanto o incomoda. Não espera senão poucas coisas ou mesmo nada da parte de Deus. Pode calar-se, mesmo quando vê homens atravancando seus caminhos de pensamentos, de opiniões, de cálculos e de sonhos falsos, porque eles querem viver sem Deus. Retira-se sempre quando devia avançar. Compraz-se sempre quando é chamado de arauto do evangelho, condutor espiritual e servidor de Deus, mas só serve aos homens. Sonha, às vezes, que fala em nome de Deus, mas não fala a não ser em nome da sua dominação.

Ele sabe que o caminho e a conduta que segue não são verdadeiros, mas não quer incomodar nem a si mesmo, nem aos outros; por isso é que diz: ‘continuemos prudentemente e sempre alegres em nossos caminhos atuais; não podemos mudar os marcos antigos’.

Ele sabe que Deus quer tirar os homens do engano, da impiedade, e que a luta espiritual deve ser travada. Ele sabe que Deus quer mudar os odres velhos mas, no entanto, ele prega a paz e a bonança. Ele sabe que Deus esta insatisfeito com o sistema, mas ele deixa reinar o espírito do medo, do engano, de Mamom, da violência – a muralha construída pelo povo (Ez 13.10), o muro oscilante manchado. Ele o disfarça pintando de cores suaves e consoladoras da “religião” para o contentamento de todo o mundo. Eis aí o falso profeta.

Deixe que eu lhe diga mais uma coisa bem clara: sempre que você vir pessoas possuídas por uma espiritualidade exibicionista, tome cuidado. Jesus, nossa suprema referência de espiritualidade, curava, libertava e realizava prodígios com extrema discrição (Mt 12.19; Mc 3.12). E quando o povo ficava sabendo de seus poderes espirituais isso acontecia em função de fatos, ou seja, de pessoas que tinham sido realmente beneficiadas por ele (Mc 7.36). Os fatos falavam sempre mais alto na vida de Jesus. Não o vemos reunindo grupos de pessoas na casa de Pedro para falar das curas que realizava em outra cidade.

Não. Ele nem falava do que já havia feito. Ele simplesmente fazia (Jo 10.25). Quem fala que faz geralmente não faz. Quem faz, faz. Não fala que fez.

VII. O FALSO PROFETA DESMASCARADO

1. A arrogância de Hananias. Duas características de um falso profeta são a audácia e arrogância. E o falso profeta Hananias apresentava essas más qualidades. A Palavra de Deus diz que, enquanto o profeta Jeremias representava a situação futura de Israel usando um jugo no pescoço, Hananias tomou o jugo e, diante do povo quebrou-o reafirmando seu discurso positivista: “Assim quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, depois de passados dois anos completos” (Jr 28.11). Era uma situação difícil para Jeremias, que limitou-se a “tomar o seu caminho”. Para nós, que estamos cientes de que a verdade estava do lado de Jeremias, é fácil compreender. Todavia, imagine o povo naquela época assistindo esse embate, com o agravante do falso profeta usara chancela (ainda que falsa) de uma suposta autoridade espiritual: “Assim fala o SENHOR dos Exércitos̶ ou “assim diz o SENHOR” (vv.2,4,11). Como discernir o verdadeiro do falso?

2. O jugo de madeira é substituído por um de ferro (vv. 13-14). A ousadia de Hananias acarretou ainda mais a ira divina. Deus mandou Jeremias voltar e declararão falso profeta: “Jugos de madeira quebraste. Mas, em vez deles, farei jugos de ferro” (v.13). Dessa forma, a servidão seria ainda pior, pois, agora o jugo seria de ferro, ou seja, ninguém poderia quebrá-lo (v.14).

3. O julgamento do falso profeta Hananias e a confirmação de Jeremias como profeta de Deus (vv.15-17). Como tudo tem o seu tempo, chegou a hora de o falso profeta Hananias ser desmascarado. Disse-lhe Jeremias: “[...] não te enviou o SENHOR, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras” (v. 15). A mensagem do falso profeta, apesar de agradável, era falsa; não provinha do Senhor. Noutras palavras, era uma mentira ruinosa que contribuiu para a queda da nação e o exílio do povo.

Hananias pagaria com a própria vida por sua rebelião contra o Senhor; disse-lhe Deus: “Eis que te lançarei de sobre a face da terra; este ano, morrerás, porque falaste em rebeldia contra o SENHOR” (v.16). Essa era a pena que a lei determinava para os falsos profetas (Dt 18.20). O início do confronto entre o verdadeiro e o falso profeta aconteceu no “quinto mês” (v. 1). Hananias morreu “no mesmo ano, no sétimo mês” (v. 17). Isso mostra que a profecia de Jeremias cumpriu-se em menos de dois meses. Hananias foi desmascarado e morto; Jeremias, confirmado como profeta de Deus. Por que o povo não se arrependeu de seus pecados, e continuou a confiar nas mentiras dos falsos profetas? A resposta é simples: os rebeldes optam por acreditar apenas naquilo que lhes agrada. Essa é a tendência do ser humano.

VIII.       JOÃO BATISTA O ÚLTIMO PROFETA


João Batista é o personagem que demarca a transição da Antiga Aliança para a Nova Aliança e serve de ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Além disso, foi o precursor do Messias e tinha como uma de suas principais atividades o batismo em água. De certa forma, acabou introduzindo o rito, que veio a tornar-se a primeira ordenança da Igreja. Nesta oportunidade, trataremos da origem, ministério e mensagem de João Batista, o último profeta veterotestamentário.
  
1. A personalidade de João Batista.

A. O testemunho de Jesus (v.7a). Pouco tempo após batizar o Senhor Jesus, João Batista foi preso. Ao ouvir acerca das realizações de Cristo, ele mandou que dois de seus discípulos fossem até ao Senhor e o inquirisse acerca do cumprimento de sua missão messiânica (Mt 11.3). Jesus mandou então que contassem a Batista, na prisão, “as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt 11.4,5). Isto é, não havia apenas sinais no ministério do Senhor Jesus Cristo, mas também e, principalmente, a mensagem do evangelho.

B. Sua espiritualidade e devoção (v.7b). Após essa resposta, o Senhor Jesus passa a falar sobre a grandiosidade do ministério de João Batista. O Filho de Deus revela que o povo não saiu ao deserto para ouvir qualquer pessoa, mas um homem destemido e cheio do Espírito Santo; um homem que falava a verdade divina, exortando os pecadores ao arrependimento; um homem que não temia as ameaças dos poderosos. Era inconcebível pensar que João Batista havia fraquejado por estar preso, pois ele não era “uma cana agitada pelo vento”, mas um vigoroso cedro capaz de resistir a fortes tempestades. Ele estava na masmorra de Herodes (Mt 14.10-12), porém, demonstrava um forte compromisso e preocupação com a obra de Deus.

2. João Batista como precursor do Messias; e a comparação com o profeta Elias.

A. “Muito mais que profeta” (v.9). O testemunho público de Jesus confirma o que o Espírito Santo havia falado por boca de Zacarias: João seria “profeta do Altíssimo” (Lc 1.76). Cristo foi além; afirmou que João era “muito mais do que profeta”. Ele declarou ser o Batista um mensageiro enviado por Deus como o precursor do Messias (v. 10), cumprindo assim a profecia de Malaquias (Ml 3.1). Jesus acrescentou que dentre os mortais, não houve ninguém maior do que João (v.11). E isso, por algumas razões: a) Porque os profetas falaram a respeito de João (Is 40.3; Ml 3.1); b) porque João teve o privilégio de ver o cumprimento principal dos oráculos proféticos do Antigo Testamento: O Senhor Jesus; c) por ter sido o precursor do Messias; d) porque batizou o Senhor Jesus nas águas; e) porque pode participar da salvação que os profetas apenas predisseram; e finalmente f) porque chegou ao clímax do ministério profético, tal como havia no Antigo Testamento (Lc 16.16).

B. O término da dispensação da Lei (v.13).
A Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele” (Lc 16.16).

Pelas razões acima apresentadas, João é o mais excelente de todos os profetas; com ele se encerra a Antiga Aliança. João Batista é o único personagem do Novo Testamento com quem Deus se comunicava da mesma maneira que Ele falava aos profetas do Antigo Testamento: “[...] veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3.2 — ARA; cf. Jr 1.2).


C. “O Elias que havia de vir” (v.14). Ao comparar o ministério de João Batista ao de Elias, Jesus confirma o oráculo de Malaquias (4.5,6). Em outras palavras, João veio na virtude e no espírito de Elias (Lc 1.17), ou seja: exercendo um ministério igual ao de Elias. E o Senhor Jesus o reafirma em outra ocasião (Mt 17.12,13). Isso, porém, não deve levar ninguém a pensar que João era Elias reencarnado por duas razões básicas: Elias foi arrebatado vivo para o céu, portanto, não morreu (2 Rs 2.11). Além disso, reencarnação é algo que não existe e nem é permitido por Deus (2 Sm 12.23; Sl 78.39; Hb 9.27).

Elias e João Batista tinham as mesmas características: ambos vestiam-se de pelos e usavam cinto de couro (2 Rs 1.8; Mt 3.4), ministravam no deserto (1 Rs 19.9,10,15; Lc 1.80), e eram incisivos ao pregarem contra reis ímpios (1 Rs 21.20-27; Mt 14.1-4).

O papel de João Batista como um precursor do Messias o colocou numa posição de grande privilégio, descrito como “muito mais do que profeta” (11.9), como não havendo ninguém maior do que ele. Nenhum homem jamais cumpriu este objetivo dado por Deus melhor do que João. Ainda assim, no Reino de Deus que está chegando, o menor terá uma herança espiritual maior do que João, porque ele viu e conheceu a Cristo e a sua obra concluída na Cruz. João morreria antes que Jesus morresse e ressuscitasse para inaugurar o seu Reino. Como seguidores de Jesus testemunharão a realidade do Reino, eles terão privilégios e um lugar maior do que João Batista. Todos os profetas das Escrituras tinham profetizado a respeito da vinda do Reino de Deus. João cumpriu a profecia, pois ele mesmo era o Elias que havia de vir (Ml 4.5). João não era Elias ressuscitado, mas ele assumiu o papel profético de Elias — o de confrontar corajosamente o pecado e mostrar Deus às pessoas (Ml 3.1). [Comentário do Novo Testamento, Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD, 2009, p.76-7].

Quando Jesus veio a este mundo e foi batizado por João Batista, o evangelho do reino do céu começou.


IX.     COMO JULGAR UM PROFETA

“Meus queridos amigos, não acreditem em todos os que dizem que têm o Espírito de Deus. Ponham à prova essas pessoas para saber se o espírito que elas têm vem mesmo de Deus; pois muitos falsos profetas já se espalharam por toda parte. É assim que vocês poderão saber se, de fato, o espírito é de Deus: quem afirma que Jesus Cristo veio como um ser humano tem o Espírito que vem de Deus. Mas quem nega isso a respeito de Jesus não tem o Espírito de Deus; o que ele tem é o espírito do Inimigo de Cristo. Vocês ouviram dizer que esse espírito viria, e agora ele já está no mundo. Meus filhinhos, vocês são de Deus e têm derrotado os falsos profetas. Porque o Espírito que está em vocês é mais forte do que o espírito que está naqueles que pertencem ao mundo. Eles falam das coisas do mundo, e o mundo os ouve porque eles pertencem ao mundo. Mas nós somos de Deus. Quem conhece a Deus nos ouve, mas quem não pertence a Deus não nos ouve. É desse modo, então, que podemos saber a diferença que existe entre o Espírito da verdade e o espírito do erro” (1ª Jo 4.1-6).

Como poderemos saber se o profeta é de Deus ou não? Os profetas devem ser provados (Jo 4.1). Pela Palavra de Deus podemos julgar. Aliás, a própria Palavra é quem julga. “Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia” (Jo 12.48).

No Novo Testamento, Cristo deixou os ministérios para a edificação da Igreja (Ef 4.11). Os profetas de hoje têm a responsabilidade e função de: cuidar, advertir e ensinar a igreja pela Palavra. Uma igreja cristã bem ensinada está alicerçada na Rocha, mas, se está a mercê, com certeza sofrerá ataques do adversário.

Os que hoje detêm o dom profético não mais possuem a autoridade e as prerrogativas dos mensageiros divinos dos tempos bíblicos. Nesta dispensação, o dom profético tem como função exortar, consolar o povo de Deus; jamais modificar artigos de fé, alterar doutrinas ou trazer novas revelações (1ª Co 14.26-40; Ap 22.18-19).

Um ministro que não ensinou conforme a sã doutrina de Cristo e a interpretou a seu bel-prazer, sofrerá um julgamento acentuado, pois o mestre Jesus diz que alguns serão atados de pés e mãos e lançados no inferno.

Saul deixou de cumprir (obedecer) a Palavra do Senhor, por isso Ele o rejeitou. Saul é rejeitado definitivamente e, em conseqüência, sofre de perturbação e, no final de sua vida, teve uma morte trágica.

Mudar o sentido da Palavra é um dos piores pecados. Quem o fizer receberá duro juízo de Deus. Ser um ministro do evangelho é bom, mas sem conhecimento leva-o para um juízo mais severo, porque não estamos tratando com os negócios dos homens, mas de Deus.

“Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1).

À primeira impressão parece que não devemos ser mestres. Mestre assim como pastores, são dons de Deus para a edificação de Sua Igreja (Ef 4.11; 1ª Co 12.28). O mestre molda as mentes imaturas para o bem ou para o mal. O juízo mais acentuado é para aqueles que não tiveram humildade e responsabilidade de ministrar um ensino correto aos seus seguidores, ou seja, mudaram a verdade da Palavra. É por isso que Paulo prescreve aos Romanos: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). E para os fariseus Jesus diz: “... sofrereis juízos muito mais severos!” (Mt 23.14).

Segundo a lei de Moisés, aquele que era apanhado em pecado, por duas ou três testemunhas, era morto. “De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?”.
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; Pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma”. (Hb 10 26-31, 38 e 39).

Podemos considerar como apóstatas aqueles que deixam a fé, negam a fé e aqueles que mudam o sentido da Palavra. Aqueles que desprezam as verdades bíblicas e fazem a obra de Deus de qualquer maneira serão malditos (Jr 48.10; Gl 1.9), e condenados ao fogo eterno.

Aqueles que pisam no sacrifício de Jesus são chamados de profanos, pois assim como o profano Esaú, que trocou a primogenitura por um prato de alimento, assim são chamados aqueles que saem da graça de Cristo para outro evangelho (Gl 1.6), trocam a fé pela conjectura denominacional.


Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembléia de Deus

FONTE DE PEQUISA


1.      ANTÔNIO GILBERTO. Profeta maiores - EETAD. Reimpressão Revisada 2012.
2.      BÍBLIA PENTECOSTAL. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida - Edição 1995, CPAD, Rio de Janeiro RJ.
3.      BÍBLIA SHEDD. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil – 2ª Edição, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri - SP.
4.      BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida 1995. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri - SP.
5.      CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE. Dicionário Teológico. 8ª Edição. Editora CPAD. Rio de janeiro - RJ.
6.      EZEQUIAS SOARES. Lições Bíblicas - 3º trimestres de 2010. Editora CPAD - Rio de Janeiro, RJ.
7.      FRANCISCO DA SILVEIRA BUENO, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11 ª Edição, FAE, Rio de Janeiro RJ.
8.      PAULO SÉRGIO GONÇALVES, Profetas! Sim ou não? Gráfica Ipê, Ltda, Santa Bárbara, RG.
9.      RAIMUNDO OLIVEIRA, Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 1986, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
10.  S.E. Mc NAIR, A Bíblia explicada, 4ª edição, 1985, CPAD, Rio de Janeiro RJ.
11.  Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, S. H8679.




terça-feira, 24 de agosto de 2010

A ASSEMBLÉIA DE DEUS O MOVIMENTO NEO-ASSMBLEIANO

Precisamos refletir sobre o que é ser pentecostal e assembleiano

Sou pentecostal, membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Creio em milagres, minha vida é um milagre, tenho visto muitos milagres. E, por mais que eu tenha hoje um lado contestador — que não é exclusividade minha, posto que Paulo (2ª Co 11.3-15) e o próprio Senhor Jesus (Mt 23; Ap 2-3), só para exemplificar, também se opuseram a heresias e modismos —, sempre cri na multíplice obra do Espírito Santo mediante a diversidade de dons, ministérios e operações (1ª Co 12.4-11).

Mesmo assim, sou contra — por que a Palavra de Deus também o é — ao movimento neoassembleiano, que é experiencialista e prioriza manifestações como “cair no poder”, “unção do riso”, “unção do leão”, “unção da lagartixa”, além da ênfase exagerada à prosperidade financeira, que muitos chamam de uma “unção financeira dos últimos dias”.

Na adolescência e na juventude, tive contato com todo o tipo de manifestação pentecostal e pseudopentecostal. Sei o que são cultos no monte; conheço vigílias do “reteté”, que na minha época não recebiam esse adjetivo grotesco e vulgarizante. Fui dirigente de duas congregações em São Paulo e conheci todo o tipo de crente, dos mais frios aos mais fervorosos; desde os mais céticos até os mais fanáticos.

Por graça de Deus, sou ministro do Evangelho desde 1992, ano em que fui consagrado a presbítero (ministro local), mas recebi o título de ministro pela CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus) somente em 1997, na Assembleia de Deus do Belenzinho em São Paulo. Na ocasião, tendo o meu nome apresentado pelo saudoso pastor e pregador do Evangelho Valdir Nunes Bícego, fui consagrado ao santo ministério numa reunião presidida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.
Que fique clara uma coisa: não sou um teórico, frio, gelado. Tenho plena convicção bíblica e experiencial de que o “cair no Espírito” e outras manifestações que ora ocorrem no meio da quase-centenária Assembleia de Deus não têm aprovação divina. Não estou sendo apressado em minhas conclusões. Falo com conhecimento de causa, depois de ter analisado cuidadosamente as bases e os resultados das tais manifestações.

Como tenho dito em meus livros editados pela CPAD, pessoas sinceras e tementes a Deus estão certas de que o “cair no Espírito” e a “unção do riso” são bíblicos. E algumas se apegam ao fato de manifestações similares às mencionadas terem ocorrido na Rua Azusa, em Los Angeles, no começo do século XX, e no início da Assembleia de Deus no Brasil. Mas é claro que as experiências relacionadas com o reavivamento do Movimento Pentecostal não se comparam com as aberrações que vemos hoje.
Naquela época, não havia paletó e sopro “ungidos”, empurrões “sutis”, uivos, rugidos, latidos, pessoas rastejando pelo chão, grudadas na parede, etc. Além disso, não se deve supervalorizar as experiências vividas pelos pentecostais do começo do século XX, a ponto de as equipararmos às incontestáveis verdades da Bíblia. Devemos, sim, respeitar os pioneiros, mas a nossa fonte primacial, precípua, de autoridade tem de ser a Palavra de Deus.

O “cair no poder”, a “unção do riso” e manifestações afins não se coadunam com os princípios e mandamentos contidos em 1ª Coríntios 14. Essas manifestações aberrantes não edificam (v.12); contrapõem-se ao uso da razão, necessário num culto genuinamente pentecostal (vv.15,20,32); levam os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23); e promovem desordem generalizada (vv.26-28,40).

Muitos neoassembleianos, defensores dessas manifestações, dizem que estão na liberdade do Espírito, porém o texto de 1ª Coríntios 14 não avaliza toda e qualquer manifestação. No culto genuinamente pentecostal deve haver julgamento, discernimento, análise, exame (vv.29,33). Por isso, no versículo 37, está escrito: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que essas coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”. Leia também 1 Tessalonicenses 5.21 (ARA); João 7.24 e 1ª Jo 4.1.

Não tenho dúvidas de que o Senhor opera milagres extraordinários em nosso meio. Ele é o mesmo (Hb 13.8). Mas o que temos visto hoje em algumas Assembleias de Deus são práticas viciosas e repetitivas. Jesus curou um cego com lodo que fez com a sua própria saliva, porém Ele não metodizou esse modo de dar vista aos cegos. A obra de Deus surpreende, impressiona, positivamente, e deixa todos maravilhados (Lc 5.26). As falsificações são viciosas, premeditadas, propagandeadas, a fim de que o milagreiro receba a glória que é exclusivamente de Deus (Is 42.8).

O “cair no poder”, a “unção do riso” e outros “moveres” não têm apoio das Escrituras e não podem ser equiparados ao batismo com o Espírito Santo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, mencionado com clareza na Palavra de Deus (Jl 2.28,29; Mc 16.15-20; At 2; 10; 19; 1ª Co 12-14, etc.). Por isso, os neoassembleianos recorrem a passagens que nada têm que ver com o assunto.

Citam textos como 2º Cr 5.14 e 1º Rs 8.10,11 e dizem, com a boca cheia: “Os sacerdotes não resistiram a glória de Deus e caíram no poder”. Que engano! Veja o que a Bíblia realmente diz: “E sucedeu que saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR. E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do SENHOR” (1º Rs 8.10,11). Observe que eles saíram do local; não ficaram ali caídos. Não houve também um “arrebatamento em grupo”.

A frase “não podiam ter-se em pé” tem sido empregada de modo errôneo e abusivo pelos neoassembleianos. Eles a interpretam como “caíram no poder”. Mas ela, na verdade, denota que os sacerdotes “não puderam permanecer ali”, o que fica ainda mais claro na versão Almeida Revista e Atualiza (ARA). Eles não suportaram permanecer no local ministrando! Não tinham como resistir a glória divina presente ali. Por isso, não permaneceram no local. Onde está escrito que eles caíram no poder?

Outro texto citado erroneamente em abono às manifestações neoassembleianas é João 14.12, pelo fato de mencionar “coisas maiores” do que as realizadas por Jesus. Mas o termo “obras” (gr. ergon) significa: “trabalho”, “ação”, “ato” (VINE. W.E., Dicionário Vine, CPAD, pp.764,827), e não “milagres” ou “manifestações”, estritamente.

Essas obras maiores incluem tanto a conversão de pessoas a Cristo, como a operação de milagres (At 2.41,43; 4.33; 5.12; Mc 16.17,18). Exegeticamente, são obras maiores em número e em alcance. Dizem respeito à quantidade em lugar de qualidade. João 14.12, por conseguinte, não avaliza truques, trapaças, experiências exóticas e antibíblicas, além de fenômenos “extraordinários” (cf. Dt 13.1-4; 2ª Ts 2.9; Mt 7.21-23).

O paradigma, o modelo, dos pregadores da Assembleia de Deus deve ser o Senhor Jesus Cristo, que andou na terra fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo porque Deus era com Ele (At 10.38). É perigoso quando resolvemos ter um ministério “sem limites”, em que nada pode ser contestado, à luz da Bíblia. Tudo deve, sim, ser regulado, controlado pelo Espírito Santo e pela vontade de Deus esposada em sua Palavra (Mt 7.15-23; 1ª Jo 4.1; 1ª Ts 5.21; 1ª Co 14.29; Jo 7.24, etc.).

Na Palavra de Deus não há nenhum fundamento para o “cair no poder” e outras aberrações. O Senhor Jesus nunca derrubou ninguém. Ele não arremessa pessoas ao chão mediante sopros “ungidos” e golpes de paletó. Quem gosta de lançar as pessoas ao chão é o Diabo (Mc 9.17-27). Em Lucas 4.35, está escrito: “E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal”. Jesus, o maior Pregador que já andou na terra, e seus apóstolos nunca impuseram as mãos sobre pessoas para levá-las ao chão. Eles jamais sopraram sobre elas ou lançaram parte de suas roupas a fim de derrubá-las.

Considero importantes os milagres e as curas, no nosso meio, Mas, na hierarquização feita por Deus, o Ministério da Palavra tem prioridade (1ª Co 12.28; Jo 10.41). Os sinais, prodígios e maravilhas devem ocorrer naturalmente, como consequência da pregação do Evangelho (Mc 16.15-20). E Deus precisa estar no controle, sempre. Mas hoje há muita imitação, falsificação, misticismo no meio dito assembleiano, que é na verdade neoassembleiano.

“Converte-nos, SENHOR, a ti, e nós nos converteremos; renova os nossos dias como dantes” (Lm 5.21).
Ciro Sanches Zibordi

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Lição 1 - UMA IGREJA FERVOROSA MAS NÃO ESPIRITUAL - I

 
Fervor, animação, gritos, barulho, histeria e alguns “fenômenos esquisitos”, nunca foram sinônimo da verdadeira espiritualidade, muito embora os mais vulneráveis e valorizadores destas manifestações externas pensem e preguem diferente.

Dê “um glória”, “fala em línguas”, “abre a tua boca”, “tira o pé do chão”, “desmancha essa cara de delegado” e outros termos, tornaram-se chavões de pregadores animadores de auditório, distorcendo o verdadeiro sentido e propósitos destas expressões.

A coisa tomou uma proporção tão grande, que até nos dias atuais, em muito cultos, tem pessoas que constrangidas pelo que se convencionou ser um “crente espiritual”, para se adaptar aos padrões estabelecidos, negam a sua própria personalidade e individualidade.

Não há nada de errado com a maioria destas expressões e com um comportamento eufórico. O errado está nos abusos, nos excessos, nas equivocadas motivações e na contradição entre a conduta no culto e a vida privada (e até pública).

Existem crentes, que na mesma proporção que falam em línguas, maltratam a mulher, o marido, os filhos e os pais. São caloteiros, presunçosos, arrogantes, fofoqueiros, semeadores de contenda,
mentirosos, facciosos, infiéis, empregados enganadores, patrões exploradores, etc.

Definitivamente, fervor não é sinônimo de espiritualidade. Por vezes, muito barulho e animação é uma tentativa consciente ou não, de esconder a realidade. Não adianta fazer “avinhaõzinho” ou “trenzinho”, “marchar”, dá “tiro”, “rolar no chão”, “cair no espírito”, “chiar”, “uivar”, “urrar”, pois estas coisas não provam nada, a não ser, em muitos casos, o desequilíbrio emocional e até mental, e na melhor das hipóteses, pura “meninice”. Neste último caso, é preciso ter sabedoria para não matar os “meninos”. Eles precisam ser orientados com amor e paciência, para poderem alcançar a maturidade.

Por outro lado, ser maduro não é ser frio, indiferente, azedo, amargo, insensível. Ser espiritual e maduro não nos impede de glorificar a Deus, de buscar e permitir que o Espírito manifeste em nós os seus dons. Como espirituais nos alegramos, rimos e choramos na presença do Senhor!

Poder de Deus é poder que realiza, que faz, que se importa, que ama, que prega, que socorre, e não meras demonstrações sensacionalistas e puramente emotivas.

Não é pela quantidade ou intensidade das manifestações dos dons espirituais (ou supostas manifestações), que se conhece a verdadeira espiritualidade de um cristão, mas sim por suas obras, pelo fruto do Espírito em sua vida;

“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (Tg 1.26-27)

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” (Gl 5.22-23)

QUANTIDADE E QUALIDADE NA IGREJA

Vivemos numa época onde a mania de grandeza invadiu a igreja. Ser pastor de mega igreja dá um status diferenciado, mesmo que o referido pastor não conheça, nem cuide das ovelhas lhe confiadas. Muitos irmãos vão na mesma direção. Batem no peito e se orgulham de congregarem numa “catedral”, considerando os irmãos das pequenas igrejas como crentes de um nível sócio espiritual mais baixo.

Quantidade não é sinônimo de qualidade. Contemplamos o ressurgimento da mentalidade constantiniana e medieval (Leia O CULTO E O TEMPO).

Muitos se entusiasmam mais pelo crescimento quantitativo, do que pelo qualitativo. Não me empolgo quando a mídia fala de crescimento dos evangélicos, ou de alguma igreja específica. No Brasil, ser ou declarar-se evangélico tornou-se algo banal. Virou moda. A grande questão não é se alguém é evangélico ou não, mas, se já nasceu de novo e vive em santidade diante de Deus, buscando dia a dia conhecer e fazer a sua vontade.

Leia mais em UM BRASIL EVANGÉLICO?

FALSOS CRENTES NA IGREJA

Sobre este assunto, leia em PARECE, MAS NÃO É!

Para que tais problemas sejam minimizados na igreja (pois nunca deixarão de existir), é preciso que os líderes, professores de Escola Dominical, de discipulado e outros responsáveis pelo ensino e pregação, deixem de pregar sobre questões superficiais e supérfluas, para enfatizarem questões essenciais e básicas para o crescimento da fé e da verdadeira espiritualidade.

A espiritualidade de uma igreja e seus membros, está diretamente relacionada com a espiritualidade de seus líderes.

por: Pr. Altair Germano

Via: Gospel Prime

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UMA IGREJA FERVOROSA MAS NÃO ESPIRITUAL- II

Subsídio das Lições Bíblicas “1ª Coríntios- Os problemas da Igreja e suas soluções” (CPAD).

Corinto era uma cidade cosmopolita, próspera, sincrética e devassa. Um lugar semelhante as metrópoles contemporâneas, como São Paulo, Londres, Nova Iorque ou Pequim. Corinto era a ponte entre o Ocidente e o Oriente, com uma rede de estradas que ligava dois importantes portos. A localização privilegiada levava aos coríntios a prosperidade mercantil, pois nenhum importador e exportador estava livre de passar por essas terras. Militarmente era essencial para a manutenção do império. Também floresceu entre os coríntios a atividade bancária, o artesanato, a arquitetura, os banhos, os jogos ístmicos e o trabalho com o bronze. Corinto era a síntese da cultura greco-romana, sendo naqueles dias a terceira cidade mais importante, perdendo para a capital Roma e Alexandria. Composta de judeus, gregos e escravos, essa cidade era a mistura de várias filosofias e religiões, que convivam sob um mesmo terreno. Nesse espaço nasce mais tarde a comunidade cristã.

1- O Contexto da Época.

Corinto do primeiro século era imoral, como outras grandes cidades do Império Romano. A fama da imoralidade era tão grande, que Aristófanes (480-385 a.C.) criou a palavra korinthiazesthai (“agir como um coríntio”, isto é, “cometer adultério”). Platão usou a expressão “garota coríntia” para referir-se a uma prostituta. O historiador e filósofo grego Estrabão (63 a.C - 24 d.C) escreveu que no templo de Afrodite havia mil prostitutas cultuais, que entregavam seus corpos aos homens de Corinto como forma de adoração. É importante destacar que o eufemismo “corintianizar” reportava a Corinto grega, que foi destruída pelos romanos em 146 a.C. Paulo escreve para uma comunidade coríntia já romana, que foi reconstruída por Júlio César em 46 a. C. Tudo indica que a Corinto do primeiro século, portanto romana, manteve práticas imorais como todas as cidades portuárias daquele tempo.

Os membros da Igreja em Corinto estavam mergulhados na cultura coríntia, vivendo em meio a imoralidade e desfrutando das benesses comercias dessa cidade urbanizada. Agora, a Igreja em Corinto era composta por muitos pobres (cf. 1ª Co 1.26-27) e alguns poucos crentes ricos, como a maioria das igrejas urbanas atuais.

A epístola do apóstolo Paulo aos coríntios reflete bem a realidade do século XXI. Esse século é urbano na conjuntura social, relativista na moralidade e fluído nas relações familiares como religiosas, alimentando o sincretismo e o trânsito religioso, na clara demonstração de estrutura doutrinária irregular.

2- O Fervor Religioso e a Espiritualidade.

A igreja de Corinto sofria o mesmo mal do pentecostalismo contemporâneo: muito fervor, mas pouca espiritualidade; muito carisma, porém pouco caráter; abundância nos dons, todavia falta nos frutos do Espírito. É impressionante o número de eventos que conclamam sobre avivamento, mas poucos são os frutos desse suposto “mover”. O povo brasileiro é atualmente místico e emocional, quando crentes confundem o emocionalismo exacerbado com o “poder de Deus”.

Hoje, as pregações não igrejas pentecostais resumem-se a gritaria e vitória; histeria e ufanismo; bagunça e falta de reflexão. Congressos estão lotados de pessoas ávidas por novidades, como “cair no espírito”, “aviãozinho”, “cambalhotas”, “pula-pula” etc. E aí de quem contestar essas práticas bizarras, pois logo é taxado de fariseu, blasfemo e outros estereótipos. Pouco se fala em caráter nos púlpitos pentecostais. Muita aparência de religiosidade, pois enquanto gritam “aleluais” maquiam seus males.

Não adianta gritar nos cultos como se estivesse no Maracanã, se o coração não estiver disposto a obedecer a Deus. Já dizia o falecido pr. Estevam Ângelo de Sousa, ícone do pentecostalismo brasileiro, que “uma lata vazia faz muito barulho”.

3- A Missão Discipuladora da Igreja.

Eis o grande problema da igreja pentecostal: falta de discipulado. Inclusive muitas lideranças precisariam voltar a classe dos discipulados, pois não sabem o elementar da fé cristã, portanto não aprenderam a ser discípulos. Não adianta a igreja ser muito evangelizadora, se a mesma não tem uma forte equipe de discipuladores. Igreja que evangeliza e não discipula não está cumprindo a Grande Comissão. O problema maior é que muitas deixaram o discipulado e até a evangelização.

Ensinar é moldar caráter. Falta de ensino bíblico provoca distorções doutrinárias e morais. Imaturidade e fraqueza doutrinária estão casadas. Enquanto numa comunidade muitos praticam os dons espirituais a partir da ostentação, do orgulho, da falta de amor; muita confusão acontecerá. Tudo isso fruto de um discipulado inexistente ou deficiente.

Conclusão

Uma igreja sadia é possível mesmo diante dos desafias da vida urbana. A saúde da Eclésia está totalmente relacionada ao ensino e discipulado de cada crente, por meio de uma liderança madura. A maturidade está relacionada ao caráter, portanto ostentar dons não é, senão pura vaidade.

Fonte: http://teologiapentecostal.blogspot.com

Comentário Antônio Gilberto. Lições do 2º Trimestre de 2009

PARTIDARÍSMO NA IGREJA

A formação de “grupinhos” ou partidos na igreja promove sérios conflitos entre os irmãos. Paulo escrevendo aos coríntios fez a seguinte exortação:

“Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja divisões entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer. Pois a respeito de vós, irmãos meus, fui informado pelos da família de Cloé, que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; ou Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo.” (1ª Co 1.10-12)

O partidarismo na igreja é mais uma conseqüência direta do seu aspecto humano e temporal, causado por questões políticas, interesses pessoais, espírito faccioso, rebeldia, insubmissão à liderança e outros fatores.

OS QUATRO PARTIDOS DA IGREJA EM CORINTO

Na igreja em Corinto quatro partidos se formaram. Cada um possuía características e perfil próprio. Foram eles:

1. OS DE PAULO (PARTIDO DOS FUNDADORES OU DOS MAIS ANTIGOS)

Fazer parte do grupo que fundou uma igreja, que “arrancou toco”, que arduamente trabalhou para o estabelecimento e crescimento da mesma, é um privilégio. Tais pessoas devem ser honradas e reconhecidas. A memória do trabalho dos pioneiros não deve ser apagada.

Acontece que em muitos lugares, o grupo dos fundadores, além de se acharem parte de uma casta especial, pensam ter o direito de interferir de maneira arbitrária no governo da igreja.

Não são poucos os casos, em que este grupo resiste às mudanças necessárias para o crescimento e contextualização da igreja. “Eu não aprendi assim”, “Não é bom remover os marcos antigos”, “não foi assim no princípio”, são frases típicas, carregadas de equívocos e desassociadas de reflexão e discussão.

Por outro lado, “ser de Paulo”, devido às peculiaridades do seu trabalho entre os gentios, pode implicar na tentativa de se impor uma falsa liberdade religiosa (liberalismo).

Pastores e líderes de igreja em geral, sofrem nas mãos deste grupo, que inclusive, por vezes, é composto por diáconos, presbíteros, evangelistas e pastores auxiliares.

Ser um membro antigo e ser digno de honra é uma coisa, querer e poder dirigir o trabalho é outra.

2. OS DE APOLO (PARTIDO DOS INTELECTUAIS)

Longe daquilo que se convencionou nos círculos pentecostais, ser intelectual é compatível com a fé pentecostal. O antiintelectualismo disseminado em nosso meio foi e continua sendo danoso. É possível ser intelectual e espiritual. Nossos líderes deveriam cada vez mais incentivar o desenvolvimento cultural e acadêmico de seus membros, associado a uma vida de piedade, fervor e serviço cristão. A conclusão dos estudos, a formação superior secular, o curso teológico, a pós-graduação, a formação continuada, dentre outros, fazem parte deste desenvolvimento.

Agora, é preciso deixar claro que “saber mais” não implica em “ser mais”. Não nos torna melhores ou maiores do que os que sabem menos. Infelizmente, o acúmulo de saberes acaba embriagando a muitos, promovendo com isso a criação de grupos fechados de elitistas, intelectuais, pensadores e doutores da fé.

3. OS DE CEFAS (PARTIDO DOS LEGALISTAS OU DOS TRADICIONALISTAS)

Se existe algo na igreja que em alguns lugares tem conseguido colocar a autoridade da Bíblia em segundo plano, isto se chama “a tradição”. Trata-se de um típico posicionamento farisaico e legalista:

“Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mt 15.1-9)

Os legalistas colocam os usos e costumes acima da própria Palavra, julgam as pessoas pela aparência, são éximos criadores de normas e regras de conduta, e se acham mais crentes e mais santos que os demais. Os tais não se misturam com os crentes de “segunda classe”.

4. OS DE CRISTO (PARTIDO DOS INDEPENDENTES, REVOLTADOS E INSUBMISSOS)

Não reconhecer, não submeter-se à autoridade dos pastores e líderes, não honrá-los e não amá-los, é uma atitude de quem não conhece o princípio da “delegação de autoridade espiritual”. Observe alguns textos bíblicos que recomendam estas atitudes espirituais:

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” (Rm 13.1)

“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina.” (1 Tm 5.17, ARC)

“Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hb 13.17, ARC)

Algumas frases são típicas deste grupo: “pastor nenhum manda em mim”, “importa obedecer a Deus do que aos homens”, “meu pastor se chama Jesus” e outras mais.

Na realidade, nem a Jesus esse grupo obedece, pois se assim o fizesse, honraria a quem Deus resolveu honrar com o ministério.

NOVOS TEMPOS, NOVOS PARTIDOS

Na igreja atual, além dos partidos norteados pelas idéias e princípios dos de Corinto, existem ainda outros, como por exemplo:

OS PARTIDOS DOS ÓRGÃOS E DEPARTAMENTOS

Nosso atual modelo de igreja ou congregação, com seus vários departamentos e órgãos, proporcionou a criação do partidarismo dentro destes (fundamentado em preferências pela liderança, dirigente ou orientador “A” ou “B”) e entre estes (fundamentado no senso de competição, disputa, concorrência). Há igrejas onde os órgão e departamentos não interagem entre si, não se percebem parte de um todo, de um corpo.

OS PARTIDOS DOS POLÍTICOS ECLESIÁSTICOS

Este grupo está em evidência nas igrejas e convenções (estaduais ou nacional) que optaram pelo regime de governo com eleições periódicas. Dividem o ministério e a igreja. Pastores ou chapas se apresentam como candidatos às eleições convencionais, presidenciais ou ministeriais, trocam acusações, compram pessoas, se vendem, barganham, deixam de se falar, tornam-se “inimigos” políticos, fazem campanha da maneira mais mundana possível.

Não há nada que justifique o partidarismo na igreja. Nenhum bem causa, em nada edifica. O partidarismo será sempre evidência do baixo nível, ou de nenhuma espiritualidade presente.

Comentário Antônio Gilberto. Lições do 2º Trimestre de 2009