TEOLOGIA EM FOCO: outubro 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

O MAU USO DA AUTORIDADE CONFERIDA

Saul foi ungido como rei do povo de Israel (1º Sm 10.1). Não obstante as perseguições, Davi o respeitou como autoridade (1º Sm 24.6). Davi reconhecia a unção de Deus sobre Saul (1º Sm 24.10). O rei Saul, fazendo mau uso da sua autoridade , perseguia a Davi e aos seus homens, sem se importar com as conseqüências de sua atitude (1º Sm 18.18 e 1º Sm 19.10). A autoridade delegada ao rei Saul foi tornada sem efeito no momento em que ele fazendo mau uso, no tocante às devidas limitações com relação à autoridade do profeta ao tentar tomar o lugar deste (1º Sm 15.26).

I. O REINADO DE ADONI-BEZEDEQUE

“Adoni-Bezeque, porém, fugiu; mas o perseguiram e, prendendo-o, lhe cortaram os polegares das mãos e dos pés. Então, disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, a quem haviam sido cortados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o levaram a Jerusalém, e morreu ali” (Jz 1.6-7).

A palavra Adoni é “Senhor” e Bezeque significa “disseminação” ou “massificaçao”, podendo ser interpretada como uma distorção sutil e ao mesmo tempo grotesca do crescimento. Quando um líder, em nome do crescimento, idolatra um método de crescimento em detrimento dos princípios e da mensagem do Evangelho, ocorre-se o risco de engessar as pessoas dentro de um sistema ministerial rígido que boicota a singularidade, a diversidade e a convicção vocacional das pessoas, gerando um confinamento espiritual em massa.

No contexto de Adoni-Bezedeque, o crescimento pode ser definido como uma “robotização” da membresia, que acontece como conseqüência da disseminação do espírito de controle e idolatria de uma liderança, transformando uma visão em uma “viseira.”. Cada pessoa no corpo de Cristo precisa ter a liberdade de se expressar na sua legítima identidade através da diversidade de dons, ministérios e diversidades de operações, sabendo que o Espírito é o mesmo, o Senhor é o mesmo e também é o mesmo Deus que opera em todos (1º Co 12.4-6).

1. A mutilação do polegar.





“... setenta reis, que tiveram seus polegares cortados....”

Pessoas que fora, induzidas a se anular. Desta forma, nunca poderão ameaçar a autoridade do líder ou comprometer com o “sucesso” dele. Foram impiedosamente decepadas na sua identidade pelo espírito de egocentrismo e controle reinante.

Abriram mão de quem elas são em Deus e se subordinaram a realizar uma outra pessoa sem também se sentirem realizadas. São chamados de filhos, mas não são tratados como filhos. Se viciaram numa mentalidade de escravos. Este padrão abusivo de liderança que opera pelo engano, produz frustração e esterelidade.

No oficio sacerdotal, os polegares tem um significado relevante. São os pontos de contato da redenção (sangue) e da unção (óleo). A mutilação do polegar estabelece as conseqüências espirituais deste perfil controlador de autoridade.

O dedo polegar da mão e o principal ícone da identidade. Todo líder controlador é traumatizador. O controle na liderança impede que as pessoas desenvolvam a sua identidade e convicções.

O relacionamento será marcado por situações de stress, choques traumáticos de personalidade e retaliações impiedosas aos que discordam de uma virgula sequer. Os resultados são destruidores e a área atingida acaba sendo a identidade da pessoa.

Sem o polegar dos pés, estes reis não podiam perseguir seus inimigos e muito menos fugir deles. Estavam literalmente imobilizados no campo da batalha. O dedo polegar é o dedo mais forte do pé, as pessoas passam a cambalear na vida. A capacidade de andar nos caminhos de Deus seguindo outros líderes que são autênticos seguidores de Cristo é mutilada. Esta mutilação produz ferida e marcas que alimentam uma rebelião crônica que desajusta as pessoas em relação a discernir e andar nas pegadas abertas pelo Filho de Deus.

Um rei, sem o polegar das mãos, estaria simplesmente incapacitado para entesar o arco e segurar sua espada. Sem a firmeza necessária para golpear com suas armas, estes reis estavam neutralizados. O polegar é o dedo mais forte da mão que nos possibilita agarrar as promessas de Deus, manejando a Palavra do Espírito, combatendo o bom combate da fé. O polegar superior é, também, um símbolo de firmeza e perseverança ministerial.

A mutilação do polegar se traduz espiritualmente numa debilidade ministerial crônica que pode aleijar o destino desta futura geração de líderes. Castrados na identidade e subtraídos da destreza de manejar a Palavra de Deus com integridade, revelação e coerência, muitos ministros tem perdido a mensagem pregando um evangelho cada vez mais humanista e inimigo da cruz de Cristo.

2. Os cães de Adono-Benezer.

“Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (Mt 15.26-27).

Gostaria de traduzir, resumidamente, o terrível legado dos cananeus que foi de maneira interessante e muito sabiá confrontado por Jesus no famoso episódio da mulher siro-finícia (cananéia). Os cananeus eram descendentes de Canaã, filho de Cão, o qual descobriu a nudez de seu pai Noé quando este estava bêbado. Sendo desonrado pelo seu filho Cão, Noé amaldiçoa o filho deste, que era Canaã. Ou seja, o mesmo desprezo que Noé sentiu em relação ao seu filho Cão, Cão também sentiria em relação ao seu próprio filho Canaã. Portanto, a essência da maldição dos cananeus é uma disjunção geracional do princípio da autoridade.

Este estigma de desonra e desprezo passou a seguir as sucessivas gerações de Canaã. O famoso ditado hebraico advertindo sobre não lançar pérolas aos cães e aos porcos estava contextualizando com a constante insubmissão e dureza dos povos cananeus em relação ao governo do Deus de Israel.

Sob esta ótica, podemos ter uma perspectiva melhor acerca de Adoni-Bezeque que foi um dos mais terríveis reis da terra de Canaã, que por fim foi tratado da mesma forma como tratou aqueles reis que viviam debaixo da sua mesa. Ele mesmo disse: “.... assim como eu fiz, assim Deus me pagou” (Jz 1.6-7).

Inspirado pela forma como Israel julgou Adoni-Bezeque, Jesus, estranhamente, tratou a mulher cananéia, confrontando este mesmo principado maligno que agia entre os cananeus, promovendo um relacionamento com o principado de autoridade do tipo “dono e cachorro”. Era exatamente desta maneira arrogante e controladora, que o famoso rei cananeu Adoni-Bezeque tratava aqueles setenta reis.

Isto pode parecer um pouco forte, mas reflete a verdade sobre a forma como alguns líderes relacionam-se com seus discípulos.

O sintoma da infiltração deste espírito pode ser discernido quando o sucesso do líder baseia-se no rebaixamento dos libertados. Na verdade alguns Adoni-Bezedeque cortam os dedos de seus liderados interpretando uma ameaça. A insegurança e o ciúme privam o líder de formar um outro líder que o supere, comprometendo gravemente a nova safra de líderes e o futuro da igreja.

3. Pessoas rebaixadas na sua suficiência e autonomia.
“... apanhavam migalhas...”.

São pessoas que, também, nunca poderão estar espiritualmente á altura do seu líder. Jamais estarão à mesa em pé de igualdade sendo respeitadas na sua maturidade ou expostos à grandes oportunidades. São privados e até impedidos de aprender de outras fontes. Sempre terão que viver das migalhas.

4. Pessoas rebaixadas na sua dignidade.
“... debaixo da minha mesa...”.

A mesa do líder, ou seja, seu sucesso medíocre e egocêntrico é o teto que nunca poderá ser ultrapassado pelos discípulos.

Uma atitude franca de superioridade serve para que se intimidem e permaneçam numa postura ministerial de dependência e inferioridade. Sendo tratados com inferioridade, são inspirados a desenvolver o mesmo espírito mutilador de liderança.

5. Identificando o espírito de Adoni-Bezeque.


Na verdade, Adonai-Bezeque e uma tipologia de um espírito de liderança tirano e controlador. Toda pessoa controladora é essencialmente insegura e usa a posição de liderança para compensar suas feridas e frustrações. Inspirados nestes textos podemos alistar algumas características deste perfil maligno de autoridade:

É o líder que quer todos aos seus pés como cachorrinhos e anões. Ele não investe na liderança das pessoas. Ele prende as pessoas a ele limitando e até mesmo cortando o polegar, ou seja, o potencial delas. Ele não compartilha o que ele tem recebido com as pessoas. Na verdade, as pessoas passam a viver das migalhas que caem da sua mesa. Sua motivação não é abençoar, mas estar por cima.

É o líder que se coloca com “rei” e não como servo. Sua motivação é apenas ser servido. Frequentemente usa a posição e o título que possuí como arma para se impor.

É o líder que faz seus discípulos súditos e não amigos. Exige dos discípulos uma submissão doentia e possessiva que desrespeita a individualidade, agride a liberdade e abate a auto-estima.

É importante pensar nestes setentas reis mutilados em contraste com os setentas discípulos que Jesus enviou para o campo. Adonai-Bezeque é um principado que se levanta para mutilar a vida ministerial da emergente geração de líderes. Entra a miséria espiritual. Estes reis vivem de migalhas. Pessoas mutiladas na identidade, perdem o equilíbrio, a firmeza e o espírito empreendedor.

Ao invés de serem liderados para o seu destino em Deus, ficam debaixo da mesa, postados numa situação espiritual de subjugamento. Tudo isto, muitas vezes em nome da “submissão”, que servem de pretexto para a imposição deste principado.

6. Audição mutilada.


No contexto eclesiástico existe uma certa tendência do líder assumir a posição do Espírito Santo na vida das pessoas. Esta tem sido uma terrível herança imposta pela igreja Católica Romana onde “a voz do Papa é a voz de Deus”, visto que este é tido como infalível.

O aspecto que desejo enfatizar é que este tipo de conduta no discipulado conspira contra a responsabilidade pessoal e vital de conhecer a Deus e aprender dEle. Na ditadura evangélica, atônica na propagação do Evangelho não é buscar o conselho de Deus, mas se fundamenta na opinião irredutível do líder. É quando a voz do pastor está acima da voz de Deus. Neste caso cria-se na cadeia de comando uma ligação espiritual entre almas baseadas na superioridade do líder e não na dependência divina.

Isto é muito sutil e pode acontecer com líderes bem intencionados, porem mal orientados. Quando o líder sonega ao discípulo o direito e o dever de discernir pessoalmente a voz de Deus, a liberdade em Cristo é abafada por espírito de controle. O aspecto mais relevante do espírito de Jezabel é que ele não apenas odeia o ministério profético, mas odeia, na verdade, a voz de Deus.

Este tipo de distorção castra a audição espiritual da Igreja, produzindo surdez na vida dos discípulos. Uma deficiência na audição tem como efeito colateral uma deficiência na fala, inibindo a fé, emudecendo o ministério profético, decepando a criatividade e as novas iniciativas do ministério apostólico.
Desta forma, multiplicamos uma igreja formada por surdos-mudos, sujeita a todo tipo de corrupção, onde a voz de Deus não é ouvida e nem proferida. “Não havendo profecia (Palavra profética) o povo se corrompe” (Pr 29.18).

Nesta brecha entra um espírito de religiosidade sacramentando ritos e práticas que aparentam espiritualidade, mas que na verdade renegam a intimidade com Deus. Sem a voz de Deus inspirando e dirigindo a vida devocional de cada pessoa, celebra-se o funeral da Igreja.

II. O ESQUEMA JEZABEL

“Fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o SENHOR, mais do que todos os que foram antes dele. Como se fora coisa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou. Levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria” (1º Rs 16.30-32).

A história de Jesabel na Bíblia começa quando um rei de Israel chamado Acabe, num ato de jugo desigual a desposa. Jezabel era filha de Etbaal, rei de Sidom, uma nação considerada inimiga de Israel. Jezabel não só era adoradora de Baal, como também tornou-se a maior responsável pela expansão do seu culto na sua geração.

Acabe era um líder espiritual volúvel e de caráter fraco. Influenciado por sua esposa, começou também a adorar a Baal, levando a nação à idolatria. De posse de uma posição estratégica (esposa do rei), procurando manter-se no controle, Jezabel investe contra a única coisa que poderia ameaçá-la: a voz de Deus. Assim sendo, começou a perseguir os verdadeiros profetas. Muitos foram literalmente mortos e mais de sete mil refugiam-se.

Assim como Adoni Bezeque se levanta contra o ministério apostólico, Jezabel ataca o ministério profético. Quando as pessoas não têm mais liberdade de ouvir a voz de Deus é sinal que Jezabel está por perto.

1. Discernindo o perfil de Jezabel.

“Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras” (Ap 2.20-23).

Como vemos, o próprio Jesus confrontou este espírito que residia na igreja em Taitira. No V. T., Jezabel era literalmente uma mulher, de carne e sangue, mas no N. T., primeiramente ela é revelada nosso Evangelhos através dos Herodias, um título imperial que demonstra seu poder de imposição e intimidação e depois no livro de Apocalipse ela aparece como um espírito infiltrado na igreja, usando técnica que iam desde o misticismo (falsas profecias até a imoralidade).

O objetivo é seduzir impiedosamente líderes e leigos a ficar a disposição de seus interesse. Lógico que ela não vai revelar isto claramente, antes vai ensinar que eles estão fazendo a “vontade de Deus” para as pessoas através de seus ensinos sedutores e suas profecias controladoras. Sua principal estratégia de manipulação é a religiosidade.

Ela defende ferozmente seu pequeno reino e fomenta uma dependência extremada nos seus seguidores. Uma das principais características de Jezabel é que quando ela é confrontada desenvolve um ódio destruidor da pessoa que a confrontou.

Suas reuniões são, na verdade, encontros de manipulação e “feitiçaria religiosa”, mas naturalmente, Jezabel vai disfarçando a verdadeira natureza destas reuniões, e disseminado seus ensinos.

Pr Elias Ribas
pr.eliasribas2013@gmail.com.

FONTE DE PESQUISA:
1. CÉSAR CASTELLANOS DOMINGUEZ, Liderança de Sucesso, 4ª edição, 2005, Editora Palavra da Fé.
2. JOSÉ GONÇALVES. Davi e sua Equipe de Liderados. Lições Bíblicas – 4º Trimestre de 2009. Editora CPED. Rio de Janeiro RJ.
3. WORLD MAP. O Cajado do Pastor. (SeçãoA3 - pgs. 98-118; Seção C7 -pg 63-65).